Para que serve uma universidade?

Alvo de críticas de membros do atual governo, o Ensino Superior tem a difícil
missão de repensar seu futuro

BRASÍLIA - Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas.” A afirmação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em 30 de abril, veio acompanhada de retaliação: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal da Bahia (UFBA) tiveram 30% do orçamento previsto para o ano bloqueado para despesas consideradas não obrigatórias, que vão do pagamento de bolsas a contas de luz.

Segundo o ministro, as universidades mencionadas promoveram eventos políticos, manifestações partidárias ou festas inadequadas. Depois da repercussão negativa da medida, que motivou uma ação civil pública do Ministério Público Federal pelos danos causados à honra, à imagem pública e à liberdade de expressão de professores e estudantes, Weintraub estendeu o contingenciamento a todos os institutos e universidades federais do país. A redução chega a R$ 2,5 bilhões.

A educação superior é um dos setores mais pressionados no governo Bolsonaro. O primeiro ministro a assumir a pasta, Ricardo Vélez, deixou o cargo após adotar uma série de posturas polêmicas, dentre elas a de afirmar que “as universidades deveriam ficar restritas a uma elite intelectual”. Weintraub, que assumiu em 8 de abril, não é menos polêmico. Primeiro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em seu perfil no Twitter, que “o ministro da Educação @abrahamWeinT estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)”, e que “o objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”. Logo depois, vieram as alegações de balbúrdia e o contingenciamento.

A trincheira da educação está mais acirrada do que qualquer outra. Dois protestos tomaram as ruas do país em um intervalo de apenas 15 dias. Em 15 de maio, a greve do setor levou centenas de milhares de manifestantes às ruas em mais de 200 municípios. Em 30 de maio, um novo protesto. Mais de cem municípios tiveram atos em defesa da educação. No Twitter, a hashtag #MinhaPesquisaMinhaBalbúrdia fez pesquisadores compartilharem seus estudos e os resultados que já alcançaram.

A mobilização também tem ocorrido dentro do Congresso Nacional. A Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais, criada em 2013, foi reativada neste ano. Conta com a participação de cerca de 200 parlamentares, das mais diversas bancadas. Uma das integrantes é a deputada federal Margarida Salomão (PT-MG), linguista e professora universitária que já foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora. Segundo ela, os conflitos políticos sempre foram uma constante na história das universidades — nos governos Lula e Dilma, por exemplo, houve inúmeras greves.

Mas ela aponta algumas diferenças nas disputas que o setor precisa enfrentar hoje. “As universidades são espaços de insurgência, a crítica é um traço fundamental na história delas. Conflito político com o MEC não é novidade; novidade é o MEC fazer guerra com as universidades. Novidade é contingenciamento vir com uma declaração de guerra”, diz.

Da Redação
Com informação de https://revistagalileu.globo.com

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Jota Sales, Romildo Nascimento, Gomes Silva, Lázaro Leyson e Morib Marcelo